"TEÓLOGOS" DISCUTEM AS CAUSAS DA TRAGÉDIA NO RIO
Por Hermes C. Fernandes
Uma reunião emergencial é convocada pelo conselho de teólogos da cidade. Teólogos de diversas correntes se reunem para debater as causas espirituais da tragédia que atingiu a região serrana do Rio, provocando a morte de centenas de pessoas. Um deles toma a palavra e afirma com convicção:
- Meu caros colegas, a razão pela qual sobreveio tão grande mal sobre elas é que estas cidades foram fundadas por um imperador promíscuo. Só há uma maneira de quebrar esta maldição: façamos um ato profético de troca de nome e refundação de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo. Sugiro que passem a chamar-se respectivamente, Igrejópolis, Cristópolis e Nova Jerusalém, e que sobrevoemos cada uma delas derramando vasos de unção vinda de Israel.
Percebendo o clima de rejeição provocado por sua proposta, o tal teólogo preferiu pedir licença e deixar a conferência, levando consigo uns três ou quatro companheiros.
Depois de alguns murmurinhos, outro teólogo se levanta e com voz impostada diz:
- Senhores, tudo isso é apenas prenúncio do fim do mundo. Nada há que possamos fazer para reverter isso. As coisas vão ficar cada vez pior, até que Jesus volte para nos remover deste mundo e entregá-lo de vez ao diabo.
Sua palavra foi interrompida por aplausos. Esta parecia a melhor resposta a ser dada para tentar explicar a situação, e com isso, impedir que sua cátedra fosse desacreditada.
Fazendo sinal de silêncio, outro teólogo toma a palavra e afirma como que sussurrando:
- Meus nobres companheiros, Deus não tem nada a ver com isso. Ele está tão surpreendido com a tragédia quanto cada um de nós. Ele até poderia ter evitado se tão somente tivesse conhecimento prévio dela. Mas vocês sabem… Ele só conhece o que se pode conhecer. O futuro lhe é um incógnita. Por isso, não o responsabilizemos por isso.
Seu discurso foi interrompido por outro teólogo, que vociferava:
- Quanta bobagem! Deus é Soberano! Ele mesmo provocou tudo isso! E quem somos nós para discutir sobre Seus desígnios! Estas cidades estão sob o juízo divino. Assim como todo o Estado do Rio de Janeiro, com sua prostituição infantil, seus carnavais, suas oferendas a Iemanjá e sua corrupção política e policial.
O clima esquentou na reunião. Ninguém conseguia entender o que o outro dizia. Uns gritavam: É o fim do mundo! O outro: Jesus está voltando!
De repente, entra na sala outro teólogo com sua roupa imunda de lama. Todos se calam pra saber o que se passou e qual a posição daquele colega atrasado.
Com a voz rouca e embargada, o teólogo se desculpa:
- Queridos, perdoem-me o atraso. É que eu estava ajudando a socorrer as vítimas. Não tive tempo nem de banhar-me para a reunião.
- E qual sua posição acerca desta tragédia? perguntou o que presidia a mesa.
Pelo que respondeu:
- Nada tenho a declarar.
Depois de alguns segundos de silêncio, ele completou:
- Estou liberado? Posso retornar ao meu trabalho?
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