sábado, 2 de abril de 2011

EBD: LIÇÃO 1º QUEM É O ESPÍRITO SANTO





Como não poderia deixar de ser, nestes três meses, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus propõe que estudemos a doutrina do movimento pentecostal, ou seja, a doutrina trazida pelos missionários Daniel Berg (1884-1963) e Gunnar Vingren (1879-1933) ao Brasil, fruto do avivamento ocorrido na rua Azusa, em Los Angeles, a partir de 1906, rememorando, assim, o que já havíamos estudado por ocasião do centenário deste que já é o mais longo e duradouro avivamento da história da Igreja, no terceiro trimestre de 2006.

Chama-se “movimento pentecostal” precisamente a este avivamento que alcançou seu esplendor e se fez notar ao mundo a partir de 1906 em Los Angeles, sob a liderança do pastor norte-americano William Seymour (1870-1922), mas que foi sendo “gestado” pelo Senhor a partir da segunda metade do século XVIII, quando, gradativamente, a Igreja foi sacudida pela necessidade e desejo de santificação, da volta de Cristo e da busca do poder do Espírito Santo, sentimentos que se espraiaram pelo mundo afora graças a pessoas como John Wesley (1703-1791), que promoveu um avivamento na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, sob a influência dos morávios, eles próprios protagonistas do segundo maior avivamento da história da Igreja e cujo movimento levou ao surgimento de grandes pregadores do Evangelho no século XIX, como Dwight Lyman Moody (1837-1899) e Reuben Archer Torrey (1856-1928); como John Nelson Darby (1800-1882), que, além de promover o retorno à simplicidade no serviço ao Senhor, trouxe a conscientização da proximidade da volta de Cristo, o que foi divulgado principalmente por Cyrus Ingerson Scofield (1843-1921) e como Charles Fox Parham (1873-1929), que foi professor de Seymour, que resgatou a verdade bíblica do batismo com o Espírito Santo.

O “movimento pentecostal” tem este nome precisamente porque buscou o retorno ao “Pentecoste”, ou seja, à vida espiritual vivida pelos discípulos de Jesus Cristo a partir da “inauguração” da Igreja, que se deu naquela festividade judaica, ela própria uma figura do derramamento do Espírito Santo que viria sobre os servos de Jesus Cristo para que se pudesse realizar a tarefa de evangelização determinada pelo Senhor até que Ele voltasse.

Ser “pentecostal”, portanto, nada mais é que crer que a realidade vivida pela Igreja nos dias apostólicos tem de ser a mesma realidade vivida pela Igreja no presente e até que o Senhor Jesus venha buscar a Sua Igreja. O “pentecostal” entende que não há qualquer mudança na operação de Deus através da Igreja de Cristo Jesus nos dias dos apóstolos e nos dias de hoje. Deus não muda e, portanto, não há porque entendermos que a ação divina através da Igreja seja diversa daquela que se encontra descrita na Bíblia Sagrada.

Para tanto, torna-se necessário, e é o que faremos neste trimestre letivo, estudar como se dá a atuação divina através da Igreja segundo as Escrituras, para que esta mesma realidade descrita na Bíblia seja desfrutada e experimentada pelos que se dizem servos do Senhor Jesus nestes dias tão difíceis em que está tão próxima a volta de Jesus.

A capa da nossa revista mostra-nos uma pomba voando, que é precisamente o que representa o “movimento pentecostal”, o “movimento do Espírito Santo” enquanto Jesus não vem para arrebatar a Sua Igreja. A pomba é um dos símbolos do Espírito Santo, pois foi em forma corpórea de uma pomba que o Espírito Santo desceu sobre Jesus (Mt.3:16; Mc.1:10; Lc.3:22).

Não foi desarrazoado ter o Espírito Santo vindo na forma corpórea de uma pomba, visto que este animal muito tem a nos ensinar a respeito da natureza e das características do Espírito Santo, como haveremos de verificar na lição 2 deste trimestre.

Por ora, basta mencionarmos que a pomba é um animal que não tem fel, ou seja, não produz amargura; um animal que tem espantoso senso de direção; um animal que apresenta grande resistência; um animal simples; um animal que passou a ser valorizado pelo sabor de sua carne, como também pela sua beleza decorativa. Todas estas características mostram-se algo do Espírito Santo, que é doce, nunca produz amargor, que resiste juntamente com a Igreja e impede a manifestação do Anticristo até a vinda do Senhor para arrebatar a Sua Igreja, que é valorizado por aqueles que passam a ser a Sua habitação na salvação, que adorna a Igreja do Senhor com dons espirituais.

A primeira lição mostrar-nos-á quem é o Espírito Santo, a Pessoa Divina encarregada de acompanhar e dirigir a Igreja enquanto Jesus não volta para buscá-la. Sem compreendermos quem é o Espírito Santo, jamais poderemos nos dizer “pentecostais”.

Na lição 2, continuaremos a estudar a respeito do Espírito Santo, aprendendo a Seu respeito através dos nomes e símbolos que lhe são atribuídos na Palavra de Deus.

A partir da lição 3, iniciaremos o segundo bloco de estudos, que nos falarão a respeito da ação do Espírito Santo na Igreja. Estudaremos, então, o batismo no Espírito Santo (lição 3); o Espírito Santo como agente capacitador da obra de Deus (lição 4); os dons espirituais, sua importância (lição 5) nem como cada um deles (lições 5 e 6).

O terceiro bloco de lições mostrar-nos-ão os efeitos produzidos pela ação do Espírito Santo na Igreja, ocasião em que veremos qual é o genuíno culto pentecostal (lição 7), a pureza do movimento pentecostal (lição 8), o que é uma igreja autenticamente pentecostal (lição 11), a necessidade que temos de conservar a pureza da doutrina pentecostal (lição 12) e, por fim, uma conscientização sobre a necessidade de pedirmos um avivamento nestes dias finais de nossa dispensação (lição 13).

Diante da data histórica do centenário, teremos uma lição especialmente dedicada à história das Assembleias de Deus, a lição 10, que é, inclusive, comentada pelo pastor Isael de Araújo, funcionário de carreira da CPAD, pastor auxiliar das Assembleias de Deus em Fonseca, Niterói/RJ, autor do “Dicionário do Movimento Pentecostal” e chefe do Centro de Estudos do Movimento Pentecostal (CEMP).

Com a exceção da lição 10, o trimestre é comentado pelo pastor Elienai Cabral, presidente das Assembleias de Deus em Sobradinho/DF e que, há anos, vem comentando lições da CPAD.

Que este histórico trimestre letivo sirva para que cada aluno e professor de EBD se torne um genuíno crente pentecostal. Ao Senhor Jesus, que nos tem dado cem anos de Pentecoste em terras brasileiras, toda glória, honra e gratidão.

B) LIÇÃO 1 - QUEM É O ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Trindade, especialmente comissionada para acompanhar e dirigir a Igreja entre a ascensão de Cristo e o arrebatamento da Igreja.

Colaboração: Enomir dos Santos

I - INTRODUÇÃO

- Neste trimestre, em que comemoramos o Centenário das Assembleias de Deus no Brasil, estudaremos a doutrina pentecostal.

- Não é possível ser genuinamente pentecostal sem se saber quem é o Espírito Santo.

I - O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA

- O Espírito Santo, que é mostrado nas Escrituras com muitos nomes, como, por exemplo, Espírito de Deus, é uma das três Pessoas que compõem a Trindade (”Santíssima Trindade”, como denominam os teólogos desde a Idade Média), este mistério que mostra ser o nosso Deus um único Deus, ainda que em três Pessoas. Diante desta afirmação, vê-se que é preciso demonstrar, nas Escrituras, esta revelação, incompreensível à mente humana.

- Antes de mais nada, cumpre observar o que entendemos por Pessoa. Pessoa é uma palavra equívoca, ou seja, tem diversos significados, significados que são diferentes uns dos outros. Assim, por exemplo, no senso comum, pessoa quer dizer “gente”, enquanto que, no direito, pessoa significa “sujeito de direitos e obrigações” (daí porque a Petrobrás, o Banco do Brasil ou o Estado do Acre serem “pessoas” para os juristas). Em teologia, pessoa significa ser, ou seja, algo que tem existência própria, uma entidade que se distingue das demais.

- A Bíblia mostra-nos, com clareza, que o Espírito Santo é uma pessoa, pois menciona atitudes e ações do Espírito que somente uma pessoa pode ter. Senão vejamos:

- A Bíblia diz que o Espírito Santo pensa (Rm 8.27) - Neste texto, as Escrituras dizem que o Espírito Santo examina os corações, ou seja, examinar é raciocinar, é calcular, é emitir juízos. Uma força jamais pode calcular, jamais pode examinar, só uma pessoa pode fazê-lo. Noutro trecho, diz que o Espírito Santo compara, ou seja, faz juízos, julgamentos, o que é exclusivo de uma Pessoa (I Co.2:13).

- A Bíblia diz que o Espírito Santo sente (Rm 15.30) - Neste texto, as Escrituras dizem que o Espírito Santo tem amor, ou seja, ama, tem sentimentos. Uma força não pode amar, somente uma pessoa. Mas, em outro trecho, a Bíblia recomenda que o Espírito pode se entristecer (Is.63:10; Ef.4:30). Uma força, um “fluir” nunca pode ficar triste, somente uma pessoa. Mas o Espírito Santo não só Se entristece, como a Palavra os diz que Ele tem alegria, que Ele Se alegra, tanto que faz com que as pessoas sintam a Sua alegria, a começar pelo próprio Senhor Jesus (Lc.10:21) e, depois, dos discípulos (I Ts.1:6). Mas as Escrituras também nos revelam que o Espírito Santo tem ciúmes, ou seja, tem zelo pelos servos do Senhor, outro sentimento impossível para uma mera força (Tg.4:5).

- A Bíblia diz que o Espírito Santo determina(I Co 12.11) - Neste texto, é dito que o Espírito Santo reparte, como quer, os dons espirituais entre os crentes, ou seja, tem vontade, tem autodeterminação, algo que jamais uma força pode ter, mas tão somente uma pessoa. Em At.2:4, também é dito que os discípulos falavam línguas estranhas conforme a concessão que lhes dava o Espírito Santo, ou seja, quem determinava qual língua e quando deveria ser ela falada era o Espírito, algo que uma força jamais poderia realizar. Diferente não foi no chamado Concílio de Jerusalém, onde o Espírito Santo deu o Seu parecer a respeito da discussão a respeito da observância da lei de Moisés (At.15:28).

OBS: Que maravilha seria, aliás, se as nossas convenções e reuniões deliberativas ouvissem mais o Espírito Santo, como fizeram os discípulos naquela oportunidade…

- A Bíblia diz que o Espírito Santo convence (Jo.16:8) - Jesus disse que o Espírito convenceria o mundo do pecado, da morte e do juízo. Uma força não pode convencer, quando muito pode deter ou obrigar uma determinada atitude. Só uma pessoa pode convencer alguém, pode argumentar e obter a anuência, a adesão da vontade de outrem. O convencimento é fruto de uma argumentação, ou seja, de uma operação intelectual, de uma série de raciocínios, de ponderações, de julgamentos. Somente uma pessoa é capaz de fazê-lo e, quando Jesus nos indica que o Espírito Santo o faz, está a dizer-nos que se trata de uma Pessoa.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo glorifica (Jo.16:14) - Jesus disse que o Espírito Santo O glorificaria. Ora, uma força não pode dar glória a ninguém, porque glorificar, dar glória envolve consciência, capacidade de perceber que alguém é divino e que, por isso, merece honra e glória. Por isso, só os homens e anjos, seres dotados de consciência, podem fazê-lo, nem mesmo os seres vivos irracionais. Deste modo, não há como deixar de reconhecer que o Espírito Santo, tal como Jesus no-lo mostra, é uma Pessoa.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo anuncia o que tiver recebido (Jo.16:14) - Jesus também disse que o Espírito Santo receberia o que fosse d’Ele e, depois, o anunciaria aos discípulos. Neste ponto, vemos que o Espírito Santo é, mesmo, uma Pessoa e que é mais potente do que o mais poderoso dos computadores da atualidade. Com efeito, os computadores são dotados da chamada “inteligência artificial”, que nada mais é que o poder de processar dados que vier a receber, de modo a trazer novas informações, a partir dos dados obtidos, segundo programas previamente fixados. O Espírito Santo, porém, diz-nos Jesus, não só recebe as informações da parte do Filho, como também é capaz de identificá-las e selecioná-las, oportunamente fornecendo aos discípulos de Cristo as mensagens que recebeu do Senhor, algo que nem o mais potente computador fez ou jamais fará. Trata-se, portanto, de uma individualidade, que, embora em harmonia com o Filho, autonomamente utiliza as informações recebidas e as utiliza, fornecendo-as aos homens, tudo com o propósito de glorificar o nome do Senhor Jesus.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo tem consciência de Si e dos outros (Jo.16:13) - Jesus revelou que o Espírito Santo não fala de Si mesmo. Ora, se o Espírito Santo não fala de Si mesmo, é porque sabe discernir entre Si mesmo e os outros. Esta expressão bíblica é muito importante, porque desmente todo e qualquer pensamento que busca entender nas Pessoas divinas tão somente um “modo”, ou seja, tão somente uma expressão de uma suposta única Pessoa (como fazem os chamados “unicistas” ou “modalistas”, que, por exemplo, se revelam em movimentos como o “Voz da Verdade”). Aqui Jesus é bem claro ao dizer que existe aquilo que é do Espírito Santo e o que é do Filho (e, por extensão, também podemos inferir daquilo que é do Pai). Se o Espírito glorifica ao Filho e não fala do que é de Si mesmo, é porque existe aquilo que Lhe é próprio, assim como o que é próprio de Cristo. Não bastasse isso, também é dito que o Espírito Santo clama ao Pai (Gl.4:6), de modo que também vemos que, além de não Se confundir com o Filho, o Espírito também não Se confunde com o Pai. Ora, uma força não tem condições de discernir o que é próprio ou o que é de outrem, até porque uma força não é uma individualidade. Tem-se, portanto, que o Espírito Santo é uma Pessoa.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo fala (Jo.16:13) - Jesus, na Sua revelação da Pessoa do Espírito Santo, no meio das Suas últimas instruções, afirmou que o Espírito Santo não falará de Si mesmo, mas diria tudo o que tivesse ouvido. Aqui, percebemos que o Espírito Santo é um Ser que fala. Ora, uma força não pode falar, mas uma Pessoa, sim. Tanto é certo que o Espírito Santo fala que, em At.13:2, isto é explicitamente mencionado, como também em I Tm.4:1 e Hb.3:7, bem assim em todas as cartas que Jesus enviou às igrejas da Ásia Menor (Ap.2:7,11,17,29; 3:6,13,22), como num instante em que se fazia a revelação a João das coisas que brevemente hão de acontecer (Ap.14:13). Em Ap.22:17, inclusive, forma um belo dueto com a Igreja para suplicar a volta do Senhor. Como também, quem nos diz é o próprio Senhor Jesus, nos instantes de dificuldades e de necessidade de testemunho da nossa fé ante os inimigos, não seremos nós que falaremos, mas o Espírito, que está em nós, é quem falará por nosso intermédio (Mc.13:11).

OBS: A propósito, podemos testemunhar que isto já ocorreu conosco. Num determinado dia, em nossa adolescência, fomos cercados por alguns filhos de Belial, que queriam nos forçar a uma atitude antibíblica. Naquele instante de angústia, porém, dissemos algumas poucas palavras, que não vieram de nós mesmos, palavras que foram suficientes para não só nos livrar daquela situação constrangedora como para encerrar, de vez, aquela perseguição que, já há algum tempo, sofríamos naquele lugar. É o Espírito Santo falando por nosso intermédio no instante da necessidade.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo ouve (Jo.16:13) - No mesmo texto já mencionado, a Bíblia diz que o Espírito Santo dirá aquilo que tiver ouvido. Portanto, é um ser, é uma Pessoa, pois tem capacidade de ouvir e não é um simples ouvir, mas um ouvir que retém e que discerne o que se ouve para depois o anunciar.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo tem noção do tempo (Jo.16:13) - Jesus ainda nos mostra que o Espírito Santo, ainda que não esteja sujeito ao tempo, vez que é Deus, tem noção do tempo, pois identifica o que, para o homem, é o presente, o passado e o futuro. Não bastassem as centenas de profecias que se encontram nas Escrituras, a indicar que o Espírito Santo tem esta noção temporal, a ponto de anunciar, por meio dos profetas e dos apóstolos (Ef.3:5), o que ainda viria a ocorrer, temos que o Senhor Jesus foi claro ao dizer que o Espírito Santo anunciaria o que haveria de vir, ou seja, na Sua consciência da oportunidade, estava a noção de que o que haveria de anunciar era algo que ainda, para os homens, era futuro, o que haveria de acontecer. O livro de Atos oferece-nos alguns exemplos desta atuação do Espírito Santo(At.20:23; 21:11), que prossegue até hoje, como, aliás, é exemplo a própria história das Assembleias de Deus no Brasil. Pode uma força ter tamanha habilidade de seleção? Evidentemente que não!

OBS: A propósito da história das Assembleias de Deus no Brasil, cumpre observar que, até hoje, muitos estudiosos de religião têm se questionado sobre a forma pela qual as Assembleias de Deus se iniciaram no Brasil, pois, em plena década de 1910, um movimento religioso dos mais vibrantes dos últimos 100 anos se iniciou na longínqua Belém do Pará, cidade que não tinha qualquer prestígio ou renome no cenário nacional de então, pois já se vivia o término do chamado “ciclo da borracha”. As Assembleias de Deus são únicas na forma como cresceram e se distribuíram pelo território brasileiro, o que causa espécie aos estudiosos. O homem, mesmo, não pode compreender o que ocorreu, mas todos sabemos que foi a estrita obediência ao Espírito Santo, a provar que o que é de Deus é loucura para os homens.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo ensina (Jo.14:26) - Muitos dos que negam a personalidade do Espírito costumam apegar-se ao ensino de Cristo de que o Espírito Santo dirigiria a Igreja (Jo.16:13), querendo, com isto, ter base para suas ideias antibíblicas de consideração do Espírito como uma força, porque - dizem eles - uma força se caracteriza por guiar, dirigir um ser a um determinado lugar, chegando, mesmo, a nos trazer os conceitos físicos a respeito dos atributos das forças, entre os quais está a direção. No entanto, analisando as palavras de Cristo, vemos que tal argumento não se sustenta, porque a direção mencionada pelo Senhor não é, em absoluto, este atributo cego indicado pelos falsos mestres, mas, sim, a direção proveniente de um Mestre. O Espírito Santo nos dirige porque nos ensina e, naturalmente, uma força não tem o condão de ensinar quem quer que seja, mas tão somente uma Pessoa. Só uma Pessoa pode nos ensinar, somente uma Pessoa pode ser Mestre e o Espírito Santo tem como uma de suas principais funções a de ensinar os discípulos do Senhor Jesus enquanto aqui estiverem aguardando o seu Salvador.

- Neste ponto, também, cumpre aqui observar que estes falsos mestres também gostam de mencionar a afirmativa de Cristo de que o Espírito Santo nos faria lembrar as coisas que o Senhor nos tivesse dito (Jo.14:26), querendo, com isto, dar a entender que o Espírito não passaria de uma força de evocação, de uma espécie de “remédio para a memória” do crente, de um estímulo vindo da parte de Deus para o exercício de nossa “memória espiritual”. Nada mais falso, porém. Quando Jesus diz que o Espírito Santo nos faria lembrar de tudo quanto o Senhor Jesus nos tem dito, está a nos revelar uma face maravilhosa deste Professor e Mestre que é o Espírito Santo. O Espírito Santo não só é um Mestre (algo que uma força não pode ser, como o vimos), como também é um Mestre dedicado, um Professor comprometido com os Seus alunos. Como tem ensinado a psicologia educacional, um bom professor é aquele que está preocupado em verificar se os seus alunos aprenderam e, por isso, sempre os faz lembrar daquilo que os ensinou. É exatamente este o papel do Espírito Santo. Quando Ele nos faz lembrar, não é porque seja uma força cega, um “remédio para a memória”, mas, bem ao contrário, é um Professor dedicado, que mostra ser uma Pessoa não só porque ensina, mas também porque ama e quer o melhor para os Seus alunos, quer que Seus alunos efetivamente aprendam o que lhes foi ensinado. Tanto assim é que sua ação não é meramente de lembrança, mas também de juízo de conveniência, pois nos lembrar o que convém falar, algo que uma força jamais poderia fazer (Lc.12:12).

- Jesus disse que não estaria com os Seus discípulos como havia estado durante o Seu ministério terreno. Foi esta, aliás, a revelação que fez aos discípulos e que lhes causou tristeza (Jo.16:5,6) e que tornou necessário minudenciar a vinda e a natureza do Espírito Santo na nova dispensação que se anunciava. Sendo assim, não seria possível mais aprender com Jesus, como os discípulos tinham feito até ali, mas, a partir da ida do Filho para o Pai, seria necessário que se aprendesse tão somente de Cristo. Necessário, portanto, que houvesse um novo Professor, alguém que pudesse ensinar de Jesus, mostrando-Lhe o exemplo e, mais, um Professor que tivesse condições de plenamente conhecer a Cristo, tendo a Sua mesma natureza, e que, portanto, pudesse ministrar os ensinos com perfeição, ministrando toda a verdade.

- Este Mestre não poderia ser outro senão o Espírito Santo, que, como o Filho, é Deus e que, desta maneira, pudesse evocar, em toda a plenitude, todos os ditos e ações do Senhor Jesus, de modo a que pudessem os cristãos ter um completo e perfeito ensino, para que seu aprendizado pudesse ser tendente à perfeição. É por isso que é dito que o Espírito Santo nos guia em toda a verdade e nos faz lembrar tudo quanto Jesus dissera (Jo.14:26), não tendo, pois, qualquer cabimento a utilização deste texto para querer justificar qualquer ideia de que se está diante de uma “força ativa” da parte de Deus. Tanto assim é que a Bíblia nos mostra que, como zeloso e dedicado Professor, o Espírito Santo ilumina a compreensão do crente, fazendo-nos entender a realidade das coisas espirituais (At.11:28; Hb.9:8).

- A Bíblia diz que o Espírito Santo testifica (At.5:32; Rm.8:16; Hb.10:15; I Jo.5:6,7), ou seja, que o Espírito Santo é testemunha. Ora, ser testemunha é algo que só uma Pessoa pode ser, pois se trata de comprovar, mediante relato, um determinado fato a alguém. Por isso, as Escrituras consideram o povo de Deus como sendo formado de testemunhas (Is.43:10; At.1:8). Assim sendo, se o Espírito Santo é uma testemunha, porque testifica, só pode ser uma Pessoa, jamais uma força. A propósito, quando o texto sagrado diz que o Espírito testifica, di-lo, em At.5:32, em relação às palavras do Evangelho, e, para que o testemunho fosse verdadeiro, era mister que houvesse o testemunho de mais de uma pessoa (Dt.19:15) e, portanto, se os discípulos invocam o Espírito Santo, colocando-se como uma unidade, é porque consideravam o Espírito Santo como uma Pessoa, sem o que não poderiam considerar que o testemunho pudesse ser tido como verdadeiro pelos seus ouvintes.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo luta contra o inimigo (Is.59:19) - Ao dizer que o Espírito arvorará contra o inimigo a Sua bandeira, o texto sagrado nos mostra que o Espírito Santo tem consciência de quem é Seu amigo e quem não o é, bem assim que tem valores e causas a defender e a proteger. Somente uma Pessoa tem a possibilidade de ter inimigos e de ser consciente do certo e do errado.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo ora (Rm.8:26; Gl.4:6; Ap.22:17) - Ao dizer que o Espírito Santo ora, ajudando os crentes nas suas fraquezas, o texto sagrado mostra-nos que o Espírito Santo é uma Pessoa, pois só uma Pessoa pode orar.

- Ante tantas evidências da Palavra de Deus, como não reconhecer que o Espírito Santo é uma Pessoa?

II - O ESPÍRITO SANTO É DEUS

- Mas a Bíblia não se limita a mostrar que o Espírito Santo é uma Pessoa, mas também nos revela que é uma Pessoa Divina, ou seja, é uma das Pessoas que compõem este mistério que é a Santíssima Trindade, este Deus que é triúno, ou seja, um Único Deus que está em três Pessoas.

- Esta natureza divina do Espírito Santo encontra-se explícita e implícita na Palavra de Deus, ou seja, não só o texto sagrado diz abertamente que o Espírito Santo é Deus, como também confere atributos e características ao Espírito Santo que indicam que Ele é Deus, já que se trata de qualidades exclusivas da Divindade.

- O texto mais explícito a respeito da divindade do Espírito Santo está em At.5:3,4, quando o texto sagrado nos conta a respeito do episódio que envolveu Ananias e Safira na igreja de Jerusalém. Indagado por Pedro a respeito do valor da venda da propriedade, Ananias mentiu, dizendo que o valor depositado ao pé dos apóstolos era o efetivo valor da venda. Diante desta mentira, Pedro diz que Ananias havia mentido ao Espírito Santo e, por isso, havia mentido não aos homens, mas a Deus. Temos, portanto, explicitamente reconhecida a divindade do Espírito Santo, prova de que os apóstolos reconheciam o Espírito Santo como Deus, ou seja, que a doutrina da divindade do Espírito Santo é a genuína e autêntica doutrina da igreja primitiva. A propósito, se Ananias mentiu ao Espírito Santo, temos mais uma prova de que o Espírito Santo não é uma força, pois não se pode mentir senão a uma Pessoa.

- Em seguida a este texto, temos, também, uma referência menos explícita, mas que é também expressa a nos indicar que o Espírito Santo é Deus. Encontra-se em At.28:25,26, quando o apóstolo Paulo está a dialogar com os judeus de Roma, que foram falar-lhe, a fim de se inteirar da doutrina que o apóstolo estava a pregar. Após notar o endurecimento dos corações dos judeus para o Evangelho, Paulo se refere a Is.6:8,9, atribuindo ao Espírito Santo as palavras ditas ao profeta Isaías. Ora, ao dizer que foi o Espírito Santo quem disse aquelas palavras, o apóstolo identifica o Espírito Santo com a Pessoa divina que dialogou com o profeta naquele trecho escriturístico, mostrando, pois, que o Espírito Santo é Deus.

- Em II Co.3:18, por fim, o apóstolo Paulo fala-nos que o cristão reflete a glória do Senhor e que o Senhor é o Espírito, ou seja, explicitamente diz que o Espírito Santo é Deus, é o Senhor, é uma Pessoa divina.

OBS: Não é tão clara esta expressão na Versão Almeida Revista e Corrigida, mas, na Nova Versão Internacional, o texto é bem explícito, motivo por que o transcrevemos aqui: “E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a Sua imagem estamos sendo transformados com a glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.” A Versão Almeida Revista e Atualizada também apresenta um texto que nos permite vislumbrar a divindade do Espírito Santo neste texto com mais clareza. Eis o texto: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. O mesmo ocorre na Tradução Brasileira, cujo texto é: “Mas todos nós, com rosto sem véu, contemplando como em espelho a glória do Senhor, somos transformados na mesma imagem de glória em glória, como pelo Senhor o Espírito.” O mesmo ocorre com a Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “Portanto, todos nós, com o rosto descoberto, refletimos a glória que vem do Senhor. Essa glória vai ficando cada vez mais brilhante e vai nos tornando cada vez mais parecidos com o Senhor, que é o Espírito.” A Tradução Ecumênica Brasileira também tem um texto mais explícito: “E nós todos que, de rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor, somos transfigurados nesta mesma imagem, com uma glória sempre maior, pelo Senhor, que é Espírito.” Bem assim, também, a Bíblia de Jerusalém: “E nós todos que, com a face descoberta, contemplamos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem, cada vez mais resplandecente, pela ação do Senhor, que é Espírito.”, que é, praticamente, o mesmo texto da Edição Pastoral.

- Para não ficarmos apenas em o Novo Testamento ou em referências do Antigo Testamento em o Novo Testamento, é interessante vermos o trecho de Jz.15:4-16:20, trecho este que nos fala a respeito da vida de Sansão. Neste trecho, percebemos, claramente, que há um intercâmbio entre as expressões “Espírito do Senhor” e “Senhor”, demonstrando, claramente, que a atuação do Espírito de Deus na vida de Sansão era a própria atuação da Divindade, tanto que o Espírito ora é chamado de “Espírito do Senhor” (Jz.15:14), ora de “Senhor” (Jz.14:18,19; 15:20), a comprovar, claramente, que o Espírito Santo é Deus.

- Além destes trechos que nos revelam que o Espírito Santo é Deus, não podemos deixar de mencionar as passagens em que há a expressa revelação da Trindade Divina e nos quais sempre o Espírito Santo está presente. Por primeiro, na fórmula do batismo, tal qual como estabelecida pelo Senhor Jesus, em que se manda batizar no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt.28:19), expressão esta que demonstra que há uma igualdade entre estas três Pessoas, de forma que é, assim, expressamente reconhecida a Deidade do Espírito Santo, bem assim a própria unidade divina, já que se fala no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e não “nos nomes”, o que permitiria dizer que os cristãos seriam “triteístas”(isto é, que acreditariam em “três deuses”), como acusam, falsamente, tanto judeus quanto muçulmanos e que, como vemos, não é, em absoluto, o ensino do Senhor Jesus à Sua Igreja.

- Em segundo lugar, temos o texto de II Co.13:13, de onde se originou a chamada “bênção apostólica”, em que, também, o apóstolo indica a igualdade que existe entre as três Pessoas divinas, a ponto de invocar-lhes por igual no instante da súplica da bênção. Embora distintas, porém, como vemos no texto da bênção, trata-se de uma única bênção, contribuindo cada Pessoa com uma determinada função, a demonstrar, uma vez mais, a triunidade divina. O Espírito Santo contribui com a comunhão, que é precisamente o Seu trabalho na presente dispensação: o de nos fazer um com o Pai e o Filho.

- O terceiro trecho que, ao revelar a triunidade divina, mostra-nos que o Espírito Santo é igual ao Pai e ao Filho e, portanto, é Deus, é o texto de Ef.4:4-6. Paulo, ao dissertar sobre o mistério da Igreja, que é o tema central da sua carta aos efésios, deixa bem claro que há um só Espírito, um só Senhor e um só Deus e Pai de todos, mostrando, assim, claramente que Deus é único, mas três são as Pessoas: o Pai, o Filho (o Senhor) e o Espírito. A estes “um só”, o apóstolo contrasta com os “todos”, que somos nós, a Igreja, que, apesar de sermos todos, formamos uma “unidade” em virtude da fé, da esperança da vocação e do batismo.

- Mas, ainda, as Escrituras indicam a deidade do Espírito Santo mediante um conjunto de textos implícitos, ou seja, textos que não dizem expressamente, como nos casos que já analisamos, que o Espírito Santo é Deus, mas que, ao conferirem certos atributos e qualidades ao Espírito Santo, dizem que Ele é Deus, vez que somente Deus pode ter as características indicadas nestes textos e atribuídas ao Espírito.

OBS: Seria como que dizer que uma determinada pessoa tem um filho. Quando dizemos isto, certamente estamos dizendo que a pessoa é pai, embora não esteja isto expresso.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo é onisciente, ou seja, sabe todas as coisas (I Co.2:10,11) - O apóstolo Paulo ensina-nos que só quem sabe as coisas que Deus sabe é o Espírito Santo. Ora, Deus sabe todas as coisas e, portanto, o Espírito Santo, se sabe o que Deus sabe, também sabe todas as coisas. Se o Espírito sabe todas as coisas, é onisciente e só Deus é onisciente, de forma que o que o texto está a nos dizer é que o Espírito Santo é Deus.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo é onipresente, ou seja, está em todos os lugares ao mesmo tempo (Sl.139:7-10) - O salmista diz-nos que não há como fugir da presença do Espírito do Senhor, pois Ele está em todos os lugares. Ora, só Deus pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, pois isto é um atributo que Lhe é exclusivo. Se o Espírito Santo está presente em todos os lugares, como diz o salmista, esta é uma outra maneira de as Escrituras nos revelarem que o Espírito Santo é Deus.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo é onipotente, ou seja, tem todo o poder (Lc.1:35,37; I Co.12:11) - Nos dois textos mencionados, é dito que o Espírito Santo faz coisas impossíveis ao homem, pois nada Lhe é impossível, como também que ele opera todas as coisas, conforme a Sua vontade. Os dois textos mostram, assim, que não há limite para a operação do Espírito Santo, que pode fazer tudo o que quiser. Ora, isto nada mais é que onipotência, que é outro atributo exclusivo da divindade. Assim sendo, temos que o Espírito Santo é Deus.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo é eterno (Hb.9:14) - Eterno é o ser que não tem princípio nem fim. Todas as criaturas têm, pelo menos, um início (Gn.1:1). Só Deus é eterno, pois só Deus não tem princípio nem fim e, por isso, é o princípio e o fim (Ap.1:8; 22:13). Se é dito que o Espírito é eterno, temos que Ele é Deus. A propósito, a Bíblia assim O indica já no livro do Gênesis. Quando é dito que Deus criou os céus e a terra no princípio, a revelar que as criaturas todas têm, pelo menos, um início, também afirma que o Espírito de Deus Se movia sobre a face das águas (Gn.1:2 “in fine”), ou seja, o Espírito não era algo que tenha tido um início, embora ali já estivesse, o que se constitui em mais uma demonstração da Sua eternidade e, por isso mesmo, da Sua deidade.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo é santo (Ef.1:13 e mais outras 84 vezes) - Talvez não haja mais demonstrações da deidade do Espírito senão a atinente à Sua santidade, tanto que o próprio nome desta Pessoa divina incorporou a característica, sendo 85 vezes dito nas Escrituras que o Espírito é “santo”. Ora, a santidade é um atributo exclusivo de Deus. O próprio Deus diz, mais de uma vez, que é santo (Lv.11:45; 20:26; 21:8; I Pe.1:15; I Jo.2:20; Ap.15:4). Portanto, se o Espírito é “santo”, isto é mais uma eloquente demonstração de que Ele é Deus.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo é a verdade (I Jo.5:6) - O texto mencionado é explícito ao dizer que o Espírito é a verdade. Jesus, mesmo, disse que o Espírito Santo é o Espírito de verdade (Jo.16:13). Ora, só quem pode ser a verdade é o próprio Deus (Dt.32:4; Jr.10:10) e uma das demonstrações de deidade de Jesus é precisamente o fato de Ele ter Se identificado com a verdade (Jo.14:6). Portanto, quando as Escrituras dizem, expressamente, que o Espírito Santo é a verdade, estão a afirmar, mais uma vez, a divindade do Espírito Santo.

- A Bíblia diz que o Espírito Santo tem amor (Rm.5:5; 15:30), pois derrama este amor nos nossos corações, amor de Deus, amor do Espírito. Ora, se o Espírito tem amor e o amor que derrama em nós é o amor de Deus, tem-se, evidentemente, que o Espírito Santo é Deus, até porque Deus é amor (I Jo.4:8,16).

- A Bíblia diz que o Espírito Santo é fonte de vida (Rm.8:2), tanto que fez gerar o Filho no ventre de Maria (Lc.1:35), a demonstrar, portanto, que o Espírito Santo é Criador. A propósito, fez Jesus tornar à vida, ressuscitando-O dentre os mortos (Rm.8:11). Mais ainda: não só produz vida física, como também, vida espiritual (II Co.3:6). Só Deus pode realizar estas coisas, pois só Ele é o Criador da vida. Assim, se o texto sagrado diz que o Espírito faz tais coisas, é porque está a dizer que Ele é Deus.

- A Bíblia diz que quem desobedece ao Espírito Santo, peca (Mt.12:31,32; Mc.3:29; Lc.12:10; Hb.10:29) - Ora, se toda desobediência ou resistência ao Espírito Santo é chamada de pecado, temos que somente se pode pecar contra Deus. As Escrituras, ao considerarem que é pecador quem se levanta contra o Espírito Santo, chamando mesmo de “blasfêmia”, que é “enunciado ou palavra que insulta a divindade”, tem-se, claramente, que o texto sagrado considera o Espírito Santo como Deus.

- Mas, além disto, temos o próprio testemunho de Jesus. Quando Jesus revelou que subiria para o Pai, disse aos discípulos que não os deixaria órfãos, pois pediria ao Pai um “outro” Consolador (Jo.14:16). No texto original grego, a palavra “outro” é “allon” (?????), que indica “outro da mesma natureza”. Assim, quando o texto sagrado nos fala do “outro” Consolador, está a dizer que seria enviado alguém que tivesse a mesma natureza de Cristo, ou seja, a natureza divina. Tanto assim é que o Senhor disse que este “outro” Consolador ficaria com os discípulos “para sempre”, ou seja, tem-se aqui mais um indicativo da natureza divina deste Consolador, a saber, a “eternidade”.

- Como, então, diante de tantas evidências, não reconhecer que o Espírito Santo é Deus?

III - O ESPÍRITO SANTO NÃO SE CONFUNDE NEM COM O PAI, NEM COM O FILHO

- Como o adversário é astuto, diante de tantas evidências bíblicas a respeito da personalidade e da deidade do Espírito Santo, logo inseriu, no meio dos crentes, sutis ensinamentos que buscam, ante a refutação das heresias que negam tanto a personalidade quanto a divindade do Espírito, dizer que, embora o Espírito Santo seja uma Pessoa Divina, Ele Se confunde ou com o Pai, ou com o Filho. Assim, o Espírito Santo seria ou o Pai ou o Filho, mas não uma “terceira” Pessoa.

- Tal ensinamento, tanto quanto os que negam a personalidade e/ou a divindade do Espírito Santo, não pode ser aceito pelos servos de Deus. O Espírito Santo, embora seja um com o Pai e com o Filho, é uma Pessoa distinta, que não Se confunde com nenhuma das outras duas.

- Estes falsos mestres buscam demonstrar as suas “teorias” a partir de alguns textos isolados, que iremos aqui analisar, que, nem mesmo fora do contexto, permitem inferir o que estão a dizer. O primeiro deles é o de Jo.14:18, segundo o qual o Espírito Santo nada mais seria do que o próprio Jesus que teria retornado para conviver com a Igreja, ainda que de forma invisível e incorpórea. Afinal de contas - dizem estes hereges - o Senhor disse que não nos deixaria órfãos, mas “voltaria para nós”.

- Entretanto, não há como confundir Jesus com o Espírito Santo nem tampouco dizer que o Espírito Santo, quando “desceu” no dia de Pentecoste, seria o próprio Jesus, só que em forma incorpórea. Por primeiro, no batismo de Jesus (Mt.3:16,17), temos as três Pessoas Divinas, a mostrar que são distintas e não Se confundem umas com as outras: O Filho, que feito carne (Jo.1:14), era batizado por João Batista, enquanto que o Pai, do céu, dava testemunho do Filho e o Espírito Santo, em forma de pomba, descia sobre Cristo. Como dizer, então, que as Pessoas Se confundem?

- Por segundo, o Espírito Santo não foi recebido pelos discípulos no dia de Pentecoste, como argumentam estes falsos ensinadores, o que explicaria a “volta de Cristo” como Espírito Santo. Os discípulos receberam o Espírito Santo antes da ascensão de Cristo, quando ainda estavam no cenáculo, como nos dá conta o texto de Jo.20:22. Quando Jesus assoprou sobre os discípulos, disse que haviam recebido o Espírito Santo. No dia de Pentecostes, eles foram revestidos de poder (Lc.24:49), o que é outra coisa bem diversa, mostrando-nos a concomitância entre Jesus e o Espírito Santo.

- Aliás, esta concomitância foi uma característica durante todo o ministério terreno de Jesus. A partir do batismo, vemos Jesus sendo ungido pelo Espírito Santo, para cumprir a obra do Pai (At.10:38). Jesus orou ao Pai, alegrando-Se no Espírito Santo (Lc.10:21), a provar que as Pessoas são distintas e não Se confundem.

- Como dizer, ainda, que Jesus é o Espírito Santo, se o próprio Jesus disse que o Espírito não falaria de Si mesmo, mas, sim, de Jesus; que não glorificaria a Si mesmo, mas, sim, a Jesus (Jo.16:13,14)? Por fim, como dizer que Jesus é o Espírito Santo se o Espírito e a Igreja estão a pedir a volta de Jesus (Ap.22:17)?

- Mas, pode alguém dizer, como explicar a expressão “voltarei para vós” pronunciada por Cristo em Jo.14:18? Esta expressão tem a ver não com uma volta da Pessoa de Cristo para o convívio da Igreja, como durante o ministério terreno, mas, sim, com o Seu retorno por intermédio do Espírito Santo. O Espírito tornaria Jesus presente, fazendo-nos lembrar dos Seus ensinos, do Seu exemplo, levando-nos à comunhão com o Pai e o Filho, por meio de uma vida de santificação, de oração e de meditação na Palavra do Senhor. Assim, por meio do Espírito, sentimos a presença de Jesus, enquanto não chega o dia do arrebatamento, quando aí, sim, passaremos a ter a presença pessoal do Filho, semelhante e até mais profunda que a que havia entre Jesus e Seus discípulos durante o Seu ministério terreno.

- Mas, se o Espírito Santo não Se confunde com o Filho, não poderia ser ele o Pai? A resposta também é negativa. Jesus disse que o Espírito Santo seria enviado pelo Pai (Jo.14:16), de modo que se o Pai enviaria o Espírito Santo, isto é porque não Se confunde com o Espírito. Além do mais, o Espírito clama ao Pai (Gl.4:6), de sorte que também não pode haver confusão entre estas duas Pessoas.

- Temos, portanto, que o ensino bíblico, a revelação divina através das Escrituras Sagradas mostra-nos, com clareza, que o Espírito Santo é uma Pessoa divina, Pessoa que não Se confunde nem com o Pai, nem com o Filho.

- Não tem, portanto, cabimento a afirmação que fazem alguns de que a “personalização” e a “divinização” do Espírito Santo são doutrinas “pagãs” ou “inovações doutrinárias” que surgiram ao longo da história da Igreja. Conforme vimos até aqui, nada utilizamos além da própria Bíblia Sagrada para mostrar a personalidade e a divindade do Espírito Santo, e o fizemos propositadamente, para desmentir cabalmente aqueles que procuram encontrar tais doutrinas em concílios ou afirmações dogmáticas ou doutrinárias que se produziram ao longo destes quase dois mil anos de história da Igreja.

- O que existiu, bem ao contrário, foi o surgimento de falsos ensinamentos, de falsas doutrinas que, ao longo da história, tentaram distorcer a verdade bíblica, criando “teorias” que procuravam invalidar o que acabamos de extrair na Palavra do Senhor. Os falsos mestres sempre existiram e existirão e com cada vez maior intensidade, mas isto em nada pode nos abalar, pois isto também é cumprimento da Palavra de Deus (Mt.24:24; II Pe.2:1,2; Jd.4).

- Assim é que apareceram aqueles que negavam a divindade do Espírito Santo, os chamados “macedonianos“, ou seja, seguidores do bispo de Constantinopla, Macedônio, que, no século IV, negavam que o Espírito Santo fosse Deus, negando, assim, como vimos, as próprias Escrituras. O Concílio de Éfeso, em 381 d.C., condenou esta doutrina, mas isto não quer, em absoluto, dizer que o Espírito Santo começou a ser considerado como Deus a partir daquela data, mas tão somente que, naquele ano, houve uma reunião expressiva de ministros e doutores cristãos que, diante deste ensino que era realizado, declarou oficialmente que aquele ensino contrariava o que diz a Bíblia.

- Também sempre houve aqueles que negassem a própria personalidade do Espírito Santo, considerando que o Espírito Santo seria uma mera “presença” de Deus, uma “influência” ou uma “força”. Esta ideia, totalmente contrária às Escrituras, como vimos, é fruto de nítida influência da filosofia grega, principalmente a proveniente de Platão, no pensamento judaico e que originou o conceito de “Shechinah” (?????), palavra hebraica que significa “a habitação”, ou seja, a “presença ou radiância de Deus”. Segundo Nathan Ausubel, “…o termo Shechinah era, por vezes, usado em vez da palavra Deus. Significava que Ele ‘habitava’ ou ‘pousava’ sobre aqueles - assim dizia a expressão - cuja virtude merecia essa graça, fosse um indivíduo, uma comunidade, ou o povo judeu inteiro. Quando a concepção de Deus atingiu um estágio mais alto de desenvolvimento (na Era do Segundo Templo) e não se considerava mais apropriar-se referir-se a Ele e a Seus atributos em termos antropomórficos - isto é, físicos, como se faria com um ser humano, o termo mais abstrato e simbólico - Shechinah foi inventado como substitutivo…” (Schechinah. In: A JUDAICA, v.6, p.779).

- Com efeito, quando verificamos a filosofia de Platão e os que lhe seguiram na sua Academia (que teve uma duração de praticamente mil anos), percebemos nitidamente a influência que o pensamento grego teve sobre os judeus, a ponto de terem estes assimilado a ideia de que a Divindade Se apresentava aos homens em uma série de “emanações”, como o Sol atinge a Terra com os seus raios. A “presença” de Deus, portanto, seria como que os raios do sol que atingiriam a humanidade. Esta “presença” ou “radiância” de Deus seria a “Shechinah”, que seria o que as Escrituras identificariam como o “Espírito do Senhor”.

- Vemos, pois, que a “implicância” judaica contra a Trindade Divina defendida pelos cristãos (”implicância” esta que é acompanhada pelos muçulmanos que, neste ponto, também criticam o Cristianismo) é fruto de uma indevida influência do pensamento filosófico grego, que, sutilmente, foi introduzido no pensamento hebraico e que foi uma das principais bases justificadoras do véu que se pôs sobre o coração de Israel até que se complete o tempo dos gentios (II Co.3:14-16). Estes argumentos são os mesmos utilizados pelos que negam a personalidade do Espírito Santo em outros segmentos religiosos, como as Testemunhas de Jeová e os chamados “modalistas“, muitos dos quais têm se intrometido em nosso meio, como o movimento “Voz da Verdade“, que possui um conjunto musical que dissemina, com seus cânticos, esta heresia, o que é inadvertidamente repetido e cantado em muitas de nossas igrejas locais.

- A propósito, este conceito, muito em voga nos nossos dias, do chamado “fluir de Deus” nada mais é que uma nova roupagem para o velho conceito de “Shechinah”, uma negação da personalidade do Espírito Santo. O Espírito Santo não é um “fluido”, não é uma “energia”, “influência” ou “força ativa” que venha da parte de Deus, mas é uma das três Pessoas da Trindade Divina, de forma que devemos evitar, a todo custo, utilizar estas expressões e nos confundir, pois tais ideias contrariam frontalmente o ensino bíblico, o ensino revelado por Deus ao homem, a respeito de Sua natureza.

- Não devemos nos esquecer, ainda, aqueles que passaram a considerar que o Espírito Santo seria um “grupo de santos intercessores”, ou seja, pessoas que teriam partido para a glória e que estariam a “interceder” pelos crentes aqui junto a Cristo e junto a Deus, como defendem os seguidores da “Igreja Apostólica“, denominação que, originariamente pentecostal, surgida em São Paulo/SP, partiu para a heresia, passando a dizer que o Espírito Santo seria este “conjunto de fiéis defuntos”, em especial, a “Vó Rosa“, uma fiel da igreja que tinha o dom de profecia e que morreu atropelada em 1970.

- Por isso, quando estamos a celebrar o centenário das Assembleias de Deus no Brasil, nada melhor do que revermos tudo aquilo que temos cantado, lido e até dito inadvertidamente, a fim de que reconheçamos por palavras, obras e pensamentos que o Espírito Santo é uma das três Pessoas divinas da Santíssima Triunidade.

Caramuru Afonso Francisco

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