EM DEFESA DA FÉ CRISTÃ ATÉ O ARREBATAMENTO. "Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a ideia de não desagradar ou chocar alguém (...) Outro modo é dizer desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver: cadeia, forca, exílio" (Monteiro Lobato, Carta a João Palma Neto, São Paulo, 24/1/1948).
domingo, 2 de outubro de 2011
QUANDO A CRISE MOSTRA A SUA FACE - LIÇÃO 1 DO 4ª TRIMESTRE DE 2011
A existência humana é marcada por altos e baixos, isto é, por sucessos e fracassos. Na experiência da fé o sucesso individual ou coletivo está diretamente relacionado a capacidade humana em entender e submeter-se a vontade de Deus. No Salmo primeiro temos uma perfeita noção dessa realidade. Em maior parte os momentos de crise vivenciados pelo povo de Deus, conforme registrado no Antigo Testamento através relato na história do povo Hebreu, ocorreram como resultado da desobediência e pecados cometidos pelo povo de Deus num contexto geral. Todavia, nem sempre as crises que homens e mulheres crentes enfrentam são geradas pelos seus próprios erros. Nesse contexto as crises se constituem em grandes oportunidades para testarmos a nossa própria determinação, a nossa capacidade de perseverarmos sem jamais aceitarmos a decretação miséria. Como nos diz salmista no Sl 20.8 “uns se encurvam e caem, mas nós levantamos e estamos de pé”. Os que se encurvam são aqueles que desistem quando a crise apresenta a sua verdadeira face, perdem a esperança, entregam as armas e assumem a fatalidade da derrota. A fé em Deus proporciona uma esperança ilimitada, e uma capacidade para se enxergar possibilidades além de qualquer previsão humana. Aquele que tem fé ainda que venha cair, mesmo assim encontrará forças para levantar e continuar de pé para enfrentar a crise com postura, integridade, fibra de caráter e esperança na certeza de que dias melhores hão de chegar. A nossa primeira lição do último trimestre/2011 traz uma abordagem sobre um desses momentos críticos vivido pela nação judaica alguns anos após o exílio babilônico. Tudo começa quando um hebreu chamado Neemias, provavelmente um descendente de uma família da nobreza judaica e também da linhagem davídica, que estava a serviço do Rei da Pérsia, Artaxerxes I, recebeu uma comitiva de Judeus oriundos de Jerusalém que lhe trouxeram notícias sobre a caótica e decadente situação em que se encontrava a cidade de Jerusalém.
CONTEXTO SOCIAL E POLÍTICO RELACIONADO COM O “PROJETO NEEMIAS”
Os dois primeiros capítulos do livro de Neemias introduzem o “projeto de Neemias” ; reedificar a cidade de Jerusalém (Ne 2.5). O texto de Ne 1-2 forma um pequeno bloco literário e de conteúdo coeso dentro do livro de Neemias. A maioria dos estudiosos entende que o texto é composto por duas partes perfeitamente relacionadas, cujo o tema principal é o estado e destruição de Jerusalém. Falar de programa de reconstrução de Jerusalém e reorganização de Judá não significa dizer que houve um programa com metas estabelecidas que se queria atingir; significa muito mais descrever o processo dentro do qual Judá foi sendo reorganizado. Ao que parece, esse processo foi deveras complicado. Não se pode esquecer também que o período entre a destruição de Jerusalém e a reconstrução de seu muro foi de quase um século e meio. É importante ficarmos cientes que no período exílico, Judá não era um “deserto populacional” como alguns pensam. Segundo algumas pesquisas, a população de Judá nesse período girava em torno de 180.000 habitantes. Conforme o Livro de Esdras, já no primeiro ano após a conquista da Babilônia (538 a. C.), Ciro autorizou o retorno dos exilados e a reconstrução do templo de Jerusalém. O ponto inicial para o processo da volta dos exilados foi a promulgação do Edito de Ciro, cuja a variante do texto aramaico se encontra em Ed 6.3-5. São mencionados vários grupos que retornaram do exílio. Ainda de acordo com estudioso Kreissig, na metade do V a. C. a população de Judá já contavam com aproximadamente 210.000 pessoas, correspondendo a uma densidade demográfica em torno de 130 habitantes por Km quadrado. A descrição do estado de Jerusalém por ocasião da chegada de Neemias parece evidenciar que a cidade e o templo foram restaurados em períodos diferentes, de modo que faz sentido encontrar diferentes tradições acerca de pessoas que reedificaram o templo (Ed 1 e 3). Os livros dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias parecem revelar que o interesse de reconstrução em Jerusalém, nas primeiras décadas, foi muito mais no âmbito particular. Isso a tal ponto que Ageu critica severamente tal comportamento: “Acaso é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas?” (Ag 1.4). Quando Neemias chegou a Jerusalém em 445 a. C., ainda encontrou a cidade de Jerusalém em situação desoladora. Os muros estavam destruídos a cidade em situação desoladora. Os muros estavam destruídos e o portões queimados (Ne 1.1-13). Todavia, mesmo após a reconstrução dos muros, a cidade ainda estava quase desabitada (Ne 7.4). Tudo parece indicar que ela voltou a ter uma vida ordinária, mas que de certa forma Jerusalém ainda não havia se tornado um pólo próspero e atrativo até a metade do V século a.C.
Um pouco antes da atuação de Neemias, a dinastia aquemenida tinha estado envolvida com assassinatos na disputa pelo trono. Xerxes (486-465 a.C.) fora asssssinado em 465 a.C., quando assumiu seu filho, Artaxerxes I (465-424 a.C.). Para galgar o trono, ele teve que mandar eliminar os seus irmãos. Quando Neemias chegou a Jerusalém em 445 a. C., pobreza e penúria reinavam na cidade. A partir do livro do profeta Malaquias são conhecidos alguns males morais e cultuais da vida comunitária. Algumas pesquisas têm chegado a conclusão de que a indicação de Neemias para a reconstrução do muro foi favorecida por uma forte motivação política, tendo em vista a ocorrência de revoltas em algumas Satrapias, o império buscava uma situação mais estável ou mais eficácia da administração persa em Judá. Talvez o rei achasse sensato reconstruir Jerusalém, a fim de ter um pequeno forte ao sul de Judá. Além do mais, era muito importante que na Judéia houvesse um súdito leal a ao rei, considerando-se as recentes rebeliões havidas. A grande maioria dos estudiosos vincula a destruição mencionada em Ne 1.2-3, de uma outra maneira, com o relato de Ed. 4.23. Os acontecimentos narrados em Ed 4.7-23 devem ser datados nos primeiros anos do reinado de Artaxerxes I. Neste período os habitantes de Samaria e os funcionários persas de Samaria procuravam dificultar a reconstrução de Jerusalém, especialmente do muro. A partir de Ed. 4.23 e de Ne 1.1, Schneider entende que inclusive uma parte da cidade, que havia sido restaurada, foi novamente destruída com violência e fogo. Para ele, a situação relatada pelas pessoas que vieram de Judá é conseqüência do mais recente decreto de Artaxerxes I (Ed 4.17-23), que determinou a interrupção da obra de restauração de Jerusalém. Outros estudiosos também concordam que a destruição relatada para Neemias deve ter tido lugar algum tempo após a missão de Esdras.
A ORAÇÃO É O PRIMEIRO RECURSO DE NEEMIAS
Neemias estava vivendo em uma situação muito confortável e de muito status político e social. Na nossa compreensão, conforme os nossos padrões profissionais, a profissão de copeiro, ainda que fosse do presidente da república, nunca seria encarada como um alto posto nos dias atuais, porém, naquele contexto a situação era bem diferente. O copeiro o rei era uma pessoa de sua extrema confiança, pois, ele era o responsável para impedir que o rei viesse a ser envenenado, participava de grande parte da privacidade do rei e muitas vezes se tornava confidente dele, o que nos parece ter sido o caso de Neemias. O fato de Artaxerxes questionar Neemias sobre a angustia que ele expressava por meio do semblante, demonstra que o rei tinha uma certa afinidade por ele, pois, geralmente os reis persas se mostravam indiferentes aos problemas sentimentais dos seus súditos e não costumavam misturar problemas pessoais com profissionais. A função de copeiro rei era tão importante, que alguns deles, muitas vezes exerciam paralelamente a essa função, altos cargos na administração pública, a semelhança de um ministro de estado. A abertura da oração de Neemias tem um paralelo com Dn 9.4. A linguagem deuteronomista perpassa toda a oração. Ela indica que Neemias era bem versado nessa linguagem e um estudioso das Escrituras, do contrário não poderia usar o AT tão livremente, como se pode perceber também em outras partes do livro (Ne 13.10,12,15). Neemias introduz a oração, não para comprovar sua piedade, mas para levar à presença de Deus toda problemática da qual tomou conhecimento. Neemias expressa sua fé quando recorre à oração. Ele reconhece que Deus é “grande e temível”, único e universal, é o Deus dos céus”. Todavia, o Deus que terá misericórdia dos que estiverem prontos ao arrependimento. Neemias se atém, assim, á promessa de que Deus é fiel àqueles que permanecem fiéis ao Senhor e mantém a sua aliança. É na lembrança dessa promessa que Neemias baseia sua esperança: Deus ouvirá sua oração. Miséria e exílio são conseqüência da ira divina. Neemias invoca Deus, pedindo sua atenção (v.6) e apresentando-lhe a confissão de pecados, dos seus próprios e dos seus irmãos (VV. 6-7). No reconhecimento de que a pessoa só pode estar diante de Deus depois de confessar sua culpa, o primeiro conteúdo concreto da oração é a confissão de culpa. A auto-inclusão de Neemias nessa confissão demonstra sua honestidade. Após a confissão de pecados, segue-se o pedido de fato: Deus havia anunciado o exílio como castigo para a quebra da fidelidade, mas também havia prometido salvação aos arrependidos (Dt 30.1-5). Neemias está apelando para a promessa de Javé. O apelo de Neemias é um apelo à misericórdia de Deus. A situação de Judá mostra que Deus cumpriu sua palavra, quando disse que puniria o povo se este persistisse no pecado. Neemias vê essa condição calamitosa de Judá como indicação do poder de Deus (Jr 18.6). Dessa forma, ele defende que Deus é igualmente capaz para restaurar a sorte de Judá, desde que haja sinais de arrependimento. No final da oração, Neemias volta a invocação inicial de que Javé lhe ouça a oração, mas agora com um aspecto muito concreto: que ele, Neemias, encontre um ouvido aberto da parte do rei. O pedido de que “seja bem-sucedido hoje o teu servo” (v.10) deve se referir aos planos de Neemias de reconstruir Jerusalém; que Neemias tenha sucesso no seu arrependimento de pedir ao rei que lhe dê autorização para reedificar Jerusalém. Neemias sabe muito bem que sua vida estará nas mãos do rei quando fizer o pedido. Fazer tal pedido diante do rei poderia ser altamente perigoso, mesmo para alguém que era protegido por ele, pois Artaxerxes I poderia entender o pedido de Neemias como uma afronta. Sabe-se que os reis do Antigo Oriente eram muito temperamentais, e suas reações muito imprevisíveis. O livro de Ester mostra que,afinal, é sempre um risco de vida chegar diante do rei (Et 4.11-16). Mas Neemias sabe que Deus é soberano, Senhor da história. E assim, nesse contexto da oração, ele pode usar a expressão “este homem” para designar o rei. Esta expressão não é tão anormal se se considerar que ela está sendo usada em oração diante de Deus, perante o qual o rei não passa de uma pessoa qualquer que também pode ser conduzida pela vontade de Deus.Por isso, a última decisão final será dada pelo Senhor da História!
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